domingo, 18 de fevereiro de 2007

Eu não tenho pai

Não há algo mais triste que admitir a verdade. Eu já não tenho pai. Para mim, existiu um homem rígido que se preocupava até demais com a minha moral e reputação. Existiu um homem severo que me punia quando eu passava de SEUS limites. Existia aquele “boca suja” (que até, infelizmente, me influenciou em partes) que não media palavras para me machucar. Mas diálogo nunca existiu.
Por outro lado existiu o pai de família que trabalhava arduamente para sustentar as filhas. Aquele que se preocupava com a casa e com a nossa alimentação. Que sabia ter criado filhas inteligentes e bonitas, e disso se orgulhava. Aquele que amava viajar com a família nas férias. Bem, isso tudo acabou já tem quatro anos. Mas chegou ao ponto que eu nunca esperaria.


Eis que surge o homem egoísta, ganancioso, que pensa que o que eu quero é somente seu dinheiro. O homem que é capaz de me deixar sem estudar para pagar estudo a uma outra “estranha” que se tornou esposa. O homem que NUNCA me encheu de presentes e nunca me deu regalias, mas gasta horrores para bajular sua queria mulher 22 anos mais jovem. O homem que pensa que com 20 anos, a filha já tem condição de sustentar-se sozinha e sua ajuda deverá ser singela. O homem que simplesmente me abandonou por achar que eu já não tenho mais idade para ser sustentada por ele, ou achou que tem outra família e não há mais obrigação com a família antiga. Como eu queria ser homem... Constituir uma família aqui, criar, esquecer e começar outra. Que coisa fácil, não? Não me dá comida. Não me dá lar. Não me dá carinho, muito menos amor. Pensa que míseros 300 reais implorado, suplicado e concedido por intervenção judicial, é muito mais que sua obrigação comigo. Tudo isso, toda essa briga e mágoa para eu poder estudar.

Eu me pergunto: O que é, então, um filho na vida de um pai?
Para isso analiso como seria eu na pele de mãe. A partir do momento em que eu ESCOLHO (veja bem, ESCOLHER) constituir uma família, viverei para meus filhos. Lutarei para que eles possam estudar, crescer aprendendo, e em seu devido tempo andar com suas próprias pernas. Eu NUNCA deixaria filho meu, independente da idade, em mãos de outros para ser alimentado e sustentado. Ele escolheu ser pai. Como pode um PAI deixar um filho como se fosse qualquer pessoa?
Eu ainda não tenho condições financeiras de me sustentar. Quem faz isso é minha avó, que por sua vez não tem obrigação. Essa avó que derramou rios de lágrimas, passou fome e foi submissa para criar seus filhos. Essa mulher que deu condições para seus filhos serem alguém e formarem suas famílias. Sim, essa mulher MÃE do meu pai. Exemplo que ele não seguiu. E hoje em dia, ainda ignora todo esse amor que ela sempre deu. Hoje em dia nem lembra da existência dela... Ele me colocou no mundo, e é ela que é obrigada a me dar o que comer, e mesmo assim ela não é boa o suficiente pra ele.
Eu luto para conseguir minha independência. Luto para ser uma boa profissional. Estudo (que por causa dele eu quase abandonei), trabalho e ganho pouco. E ele ainda diz que é tudo o que eu mereço.
É justo isso? Isso me traumatiza. Me faz pensar que PAI não existe. Que homem é um animal sem sentimentos que só consegue honrar aquilo no meio de suas pernas, e que sentimento fraterno não possui. Se eu tivesse pai, talvez teria apoio e estímulos maiores. Se eu tivesse pai, não precisava estar doente. Se eu tivesse pai, teria menos medo de relacionamentos amorosos. Se eu tivesse pai eu entenderia o mundo masculino.


ouvindo: Garbage
lendo: Danuza Leão
Filme que recomendo: "O amor não tira férias"

sábado, 10 de fevereiro de 2007

Estou com a briga com o espelho, e isso me incomoda muito. Eu não faço mais questão de me olhar. Mas o que eu faço em relação a isso? Nada. Absolutamente nada. Parei de malhar e parei a dieta. Pra que tudo isso? O que vai mudar? Nem fazendo isso minha auto-estima aumenta. Então prefiro continuar gorda e feia comendo e não fazendo nada. Porque comer é a única coisa que me alegra um pouco. Nem a internet me empolga mais.
Eu realmente gostaria que essa doença fosse curada. A depressão é a pior doença que existe. O que é pior do que não ter vontade de viver? Eu não tenho vontade de viver no momento. Paro e penso: “Se eu tivesse dinheiro, eu poderia fazer o que eu quisesse. Viajar. Sair. Ter um carro. Ter uma casa. Ter amigos.” Daí me frustro: “Será que só tenho amigos quando tenho dinheiro?”. Fico matutando por horas sobre isso. Quantas pessoas realmente me amam pelo que sou? Eu não sei. Realmente eu não sei. Se eu for comparar quantas pessoas eu conheço, e quantas me consideram de verdade, eu ficarei decepcionada.
Não consigo mais medir meus momentos tristes e meus momentos felizes. Porque os felizes eu conto nos dedos. Os tristes são constantes. Se meu dia tem 24 horas, 6 eu durmo (Ai que momento bom!). 16 eu estou triste. Talvez em 2 horas eu esteja rindo de alguma coisa ou com alguém.
Eu adoro ajudar. Eu adoro poder fazer alguma pessoa feliz. Eu adoro divertir. Mas não sou retribuída. Não tenho alguém que faça isso comigo. Então percebo cada vez mais que sou sozinha. O fato de ter pais separados e irmãs casadas me fez querer ser independente, mas não sozinha. Às vezes eu penso que fui “jogada ao mundo” muito cedo, e sinto que estou despreparada pra isso. Mas eu não tenho mais escolha.

Olhando pra trás, eu vejo que sofri muito. Não gosto de me fazer de vítima, mas não há como negar. Na separação dos meus pais, todas minhas irmãs tinham alguém que as apoiassem. Eu nunca tive. Desde a separação de meus pais, minha vida nunca mais foi igual. Fui rebelde antes porque meu pai era rígido comigo, mas hoje em dia eu entendo o lado dele. Mas ele não me entende em nada do que faço. Eu não tenho mais pai no momento.

Eu sofri desde cedo. Chorei tanto. E ainda choro e sofro. Então vem alguém, qualquer alguém, que não convive com esse meu sofrimento e me julga por querer alguns momentos de risos? Eu não consigo entender porque julgam minha diversão como irresponsabilidade. Eu não tenho nada na vida além de um quarto doado pela minha avó. Eu preciso de momentos sem solidão. Eu preciso que alguém me apóie, e não que alguém me repreenda. O pior é saber que todos que falam, ainda falam por trás. Eu só tomo conhecimento do que falam de mim, por fofocas. Ninguém imagina como isso piora minha situação! Ser jovem não é fácil. Ser sozinha então...
A única certeza que eu tenho no momento, é que estou doente. Não consigo ter perspectiva de vida. Talvez isso passe com alguma terapia. Talvez isso dure mais algum tempo. Mas eu rezo que não piore...eu rezo pra continuar tendo forças e agüentar o ódio do meu pai por mim, o ódio da Flávia por mim... todo o ódio que eu não queria que existisse, porque em mim não existe ódio por ninguém. Agüentar esse último ano de faculdade, a má-remuneração, e algumas pessoas que me irritam na Puc. Agüentar a falta de estimulo e a falta de compaixão das pessoas por mim. E tentar dar brecha a mim mesma, me divertindo de alguma forma.
Tarefa difícil...mas acredito que muito possível.



Ouvindo: Bloc Party

Lendo: blogs diversos
Filme que recomendo: Obrigado por fumar - Jason Reitman

quinta-feira, 1 de fevereiro de 2007

Aprendizado do dia...

Ontem eu estava a ponto de romper qualquer relação afetiva. Ontem qualquer um que batesse em minha porta, eu não deixaria entrar. Hoje eu não queria acordar. Para que levantar? Para que, se eu não faço diferença na vida de ninguém? E então estava eu sem razões para me levantar. Não sinto que o amor que passo aos outros, me é retribuído.Simplesmente não me sinto realmente querida. Foi então que minha prima me disse: “Me acompanhe a uma reunião”. Ela já havia me convidado e sempre me fala das reuniões que freqüenta. E eu quis acompanhá-la. Normalmente, no estado em que me encontrava hoje de manhã, eu diria: “Não...só quero ficar sozinha”. Algo em mim dizia: “Você deve ir...”. Até então eu não fazia idéia do “por que” de eu ter suportado algumas humilhações nessas duas semanas em que estou no apartamento com minha prima e com a minha tia. (Mas pelo menos lá não preciso me fingir de hipócrita... mas isso não vem ao caso.).Quando cheguei ao Al-Anon, vi uma luz. Senti-me um pouco retraída. Meu corpo dizia: “Não estou confiante” enquanto as outras mulheres já estavam à vontade. (Eu li sobre a linguagem corporal num livro, e é comum me pegar observando o comportamento corporal das pessoas). Ali escutei. Todas já tiveram problemas até maiores do que o nosso. E todas nos entendendo. Todas querendo atender à nossa súplica. Relatando seus momentos de desespero, relatando detalhadamente seus sofrimentos. Era uma forma de nos confortar, porque se elas conseguiram, nós conseguiremos também! E lá elas estão, para dividir, compartilhar, ajudar! E eu falei... Falei o que eu via. O que passava minha prima. O que minha tia nos fazia, e principalmente o que ela faz consigo! E falei da compaixão que sentia por elas. Foi então que pude perceber que a minha prima precisa de mim. E que eu posso e devo ajudar. Todos nós temos uma missão no mundo. Lidar com o alcoolismo ou com qualquer outra doença, é desgastante. É triste perder a paciência, mas é quase inevitável. Mas hoje eu aprendi uma nova lição. Nós não somos sempre os donos da razão. A partir do momento em que aceitamos que a verdade NÃO é igual para todos, nós podemos lidar mais facilmente com nossos problemas, aceitar as razões de todos e controlar a sua razão. Você não está sempre certo. Por que ela deve estar?Ter compaixão não é simplesmente passar a mão na cabeça de alguém. É você agir! É você tomar a iniciativa de ajudar o próximo. E eu POSSO ajudar.Eu não preciso me achar sempre sozinha. Eu tenho Deus. Eu tenho a fé. Ele me guia e me ajuda a ter paciência comigo mesma.Hoje eu acordei sozinha. Agora eu penso: Quão insignificante eu sou, a ponto de querer morrer? Não... eu não sou insignificante. Há pessoas que precisam de mim. E eu tenho muito amor pra dar. Se eu não for retribuída, paciência. Todos têm seu modo de amar. Ninguém ama igual.Ontem eu romperia qualquer relação afetiva. Hoje eu só quero amar. Nem que seja a mim mesma.